Pular para o conteúdo principal

Ele pagou o preço - B. J. Thomas


B. J. Thomas viu as luzes da fama se apagarem, sem que a chama de sua fé diminuísse


Que converter-se ao Evangelho tem um preço, todo mundo sabe. Mas para alguns o custo de seguir Jesus pode soar muito alto. Para Billy Joe Thomas - ou simplesmente B.J. Thomas, cantor americano internacionalmente conhe­cido - o preço foi abrir mão da fama, no auge da carreira. B. J. Thomas sumiu da cena artística pouco depois de ganhar um Oscar com Raindrops keep falling on my head, da trilha sonora do filme Butch Cassid and Sundance Kid, e estraçalhar corações com a melódica Rock'n roll lullaby, música-tema da primeira versão da novela Selva de Pedra, exibida pela Rede Globo nos anos 70. Sua decisão deixou perplexos o mundo artístico e legiões de fãs em todo o mundo. Afinal, abandonar uma carreira que o aproximou de monstros como Elvis Presley — que gravou várias de suas músicas —, e rendeu-lhe uma fortuna em milhões de discos vendidos, só seria razoável por um motivo muito forte. B.J. Thomas, que esteve em maio no Brasil, revela, entretanto, que a escolha não foi bem sua. Seu cobrador foi o preconceito, tanto da igreja de 20 anos atrás, quando se converteu ao Evangelho, e da mídia, que não compreendeu sua escolha.

Como tantos outros artistas con­sagrados, B.J. Thomas desfrutava de sucesso na carreira e amargava fracasso na vida pessoal ao mesmo tempo. Afundado nas drogas e no álcool, quase teve sua carreira interrompida, muito antes da conversão, pela morte: "Se eu não tivesse me encontrado com Deus, aquela situação sem dúvida acabaria com a minha vida rapidamente", lembra o astro. Em 1976, sua esposa Gloria pediu separação. Queria pôr fim a nove anos de casamento. Não suportava mais conviver com o marido, viciado em cocaína. O impacto da solidão só agravou os problemas exis­tenciais que o afundavam ainda mais no vício. Esse período de sua vida também era marcado por viagens freqüentes em turnês que atravessavam o país. Numa dessas viagens, B.J. experimentou a veracidade de uma característica divina que ele mesmo cantava quando, ainda criança, participava dos corais de igreja. O socorro divino diante da morte manifestou-se quando, sobrevoando o estado de Nevada, o cantor sofreu um colapso cardíaco por uma overdose de cocaína. Diz não ter morrido por mila­gre. Uma enfermeira estava no mesmo avião, mas seus conhecimentos de nada adiantaram. Os medicamentos de que dispunha não surtiam efeito devido à gravidade da situação. Movida a desespero e fé, a enfermeira, que era evangélica, resolveu apelar: impôs as mãos sobre o cantor já quase morto e orou para que Deus o poupasse. Não deu outra.

Meses depois, uma discussão travada depois de um show daria início ao último capítulo dessa história de conversão. Cansado de ouvir recla­mações do cantor e de sua banda, o gerente de um hotel de beira de estrada esfaqueou B. J. Thomas no tórax. Levado para o hospital, o cantor recebeu a visita de Gloria, de quem estava separado havia meses. A felicidade que ela aparentava causou-lhe surpresa. Gloria contou que vinha par­ticipando de cultos evangélicos a convite de alguns vizinhos e havia se convertido. Nos dias que se seguiram, essa experiência deu-lhe a esperança de salvar a vida do seu marido. Gloria passou a falar insistentemente do amor de Deus a seu marido. O cantor conta que este foi um momento decisivo e inesquecível: "Lembro-me bem de que, se não fosse a determinação da minha esposa, não teria conseguido sobreviver, tamanha a minha dependência das drogas", confessa.

Aquele não era, porém, o primeiro contato de B. J. Thomas com o Evangelho. Criado na Igreja Batista de Hugo, no estado do Oklahoma (EUA), acostumou-se desde cedo à música harmoniosa dos corais e quartetos evan­gélicos, como o Black with Brothers, que mais tarde influenciaria sua carreira gospel. A interpretação em tom de lamento que esses cantores negros davam aos hinos evangélicos tradicio­nais marcou não só a música do garoto B.J. Thomas como também sua vida. Nunca chegou a esquecer de todo as mensagens de auxílio e alívio vindo dos céus que eram a tônica daquelas canções. Ainda garoto, ele mesmo che­gou a emprestar a voz a muitas dessas músicas nos corais congregacionais.

Mas foi como cantor de rock e baladas melosas que, anos depois, conheceu o sucesso em todo o mundo. Até hoje, B. J. Thomas já vendeu 60 milhões de cópias de seus 80 discos. Entre as gravações, cinco discos de música gospel que lhe valeram vários Grammy's - o mais importande prêmio da indústria fonográfica americana.

Preconceito - O encontro com Jesus, contudo, causou-lhe um problema inesperado: a incompreensão. Membros de igreja não o aceitavam por ter cabelos compridos e usar roupas berrantes. O preconceito se acentuou também porque seu objetivo, após a conversão, era continuar fazendo shows e gravando discos românticos. Até sua família — ele e Gloria têm três filhas, Paige, hoje com 26 anos, Nora, 18, e Erin, 16 — sofreu rejeição: "Fomos julgados e condenados pelo tradicionalismo da época." Esse talvez seja o motivo do cantor e a família até hoje não terem uma igreja fixa. Nada de mais para os padrões da geração atual acostumada com Amy Grant e outros tantos ídolos pop gospel. Mas há 20 anos, os tempos eram outros: "Foram momentos de muita tristeza, e o julgamento dessas pessoas teve um efeito devastador na minha música." Por outro lado, a mídia também o abandonou, convencida de que sua carreira secular estivesse extinta. "Algumas rádios me boicotaram pois não entendiam como eu podia cantar os dois estilos."

Segundo ele, isso não afetou sua vida espiritual que, com as provações constantes, cresceu e se estabilizou. O cantor afirma que já leu a Bíblia três vezes e, apesar de não ser sempre bem sucedido, tenta estar constantemente em estado de oração. "Não acho que para adorar a Deus tenho que estar dentro de uma igreja ou mesmo de qualquer denominação. Só preciso da minha fé."

Há 10 anos, não gravava músicas evangélicas e retomou a carreira de cantor popular em 1989, realizando centenas de shows, no EUA e vários países do mundo. Ao analisar tudo o que viveu, se vê como uma espécie de João Batista da música Gospel americana. "Como ele preparou o caminho para Jesus, eu — numa escala bem menor, é claro - abri portas para cantores como Amy Grant e Michael W. Smith", diz, referindo-se a dois grandes astros da música americana que cantam os dois estilos. B. J. Thomas achou que era hora de retornar todos os estilos que compõem sua carreira. E avisa: "Houve um buraco negro na minha carreira, por causa dos meus problemas existenciais e espirituais, mas eu estou de volta."

No mês passado, veio ao Brasil pela terceira vez (já esteve aqui em 71 e 76). Acompanhado de uma banda de seis músicos americanos, fez dezoito shows, em São Paulo, Florianópolis, Curitiba, Brasília, entre outras cidades. Seus planos futuros incluem dezenas de shows nos Estados Unidos e a criação de um teatro no estado do Tenesse para apresentações de música gospel. B. J. Thomas encara evagelismo e música como uma coisa só.
Por isso pretende lançar no Brasil, no próximo mês, Precious memones, seu mais novo álbum de música gospel, cheio de referências a canções tradicionais. "Minha maneira de falar do amor de Deus às pessoas é através da música. Com ela, levo a mensagem de salvação e restauração." Dessa vez, B. J. Thomas encontrou motivo para nunca mais deixar o palco.


Revista Vinde (Eclésia), Ano I Nº 8 – Junho 1996, Pags. 43 e 44



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O escafandro e a borboleta

Uma dica de filme bacana, um motivacional apesar de não ser um filme cristão.     por Juliana Dacoregio   Impossível assistir a O escafandro e a borboleta (França/EUA, 2007) e não pensar em valorizar mais a própria vida. É o pensamento mais simplista possível, mas é também o mais sábio. Eu estava com um certo receio de assistir ao filme. Sabia do que se tratava e não queria sentir o peso da tragédia daquele homem. É uma história realmente pesada. E por mais que Jean Dominique Bauby – que, baseado em sua própria história, escreveu o livro homônimo que deu origem ao filme – conseguisse rir apesar de sua situação, o riso dele faz só faz aumentar o nosso desconforto, por ficar evidente que seu rosto permanece estático enquanto há emoções em seu interior.   Bauby se viu preso em seu próprio corpo em 1995, quando sofreu um derrame que o deixou totalmente paralisado e incapaz de falar. Apesar disso ele não teve sua audição e visão afetadas e suas faculdades mentais continuar

William Barclay, o falso mestre

  O texto a seguir foi traduzido por mim, JT. Encontrado em inglês neste endereço . As citações de trechos bíblicos foram tiradas da bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA).     William Barclay, o falso mestre Richard Hollerman Estamos convencidos de que muitas pessoas não percebem o quão difundido o falso ensinamento está em nossos dias. Elas simplesmente vão à igreja ou aceitam ser membros da igreja e falham em ter discernimento espiritual com respeito ao que é ensinado pelo pastor, pregador ou outro "sacerdote". Elas meramente assumem que tudo está bem; caso contrário, o quartel-general denominacional certamente não empregaria uma pessoa em particular para representar sua doutrina publicamente. Esta é uma atitude desgraçadamente perigosa a sustentar, uma que nos conduzirá de forma desencaminhada e para dentro do erro. Alguns destes erros podem ser excessivamente arriscados e conduzirão ambos mestre e ouvinte à condenação eterna! Jesus nos advertiu sobre os farise

O natal por Ed René kivitz

O Natal não é um só: um é o Natal do egoísmo e da tirania, outro é o Natal da abnegação e da diaconia; um é o Natal do ódio e do ressentimento, outro é o Natal do perdão e da reconciliação; um é o Natal da inveja e da competição, outro é o Natal da partilha e da comunhão; um é o Natal da mansão, outro é o Natal do casebre; um é o Natal do prazer e do amor, outro é o Natal do abuso e da infidelidade; um é o Natal no templo com orquestra e coral, outro é o Natal das prisões e dos hospitais; um é o Natal do shopping e do papai noel, outro é o Natal do presépio e do menino Jesus. O Natal não é um só: um é o Natal de José, outro é o Natal de Maria; um é o Natal de Herodes, outro é o Natal de Simeão; um é o Natal dos reis magos, outro é o Natal dos pastores no campo; um é o Natal do anjo mensageiro, outro é o Natal dos anjos que cantam no céu; um é o Natal do menino Jesus, outro é o Natal do pai dele. O Natal de José é o instante sublime quando toma no colo o Messias. A partir daquela primei